"TERAPIA É SÓ CONVERSA"
- Julio Cézar Fernandes
- 12 de jan. de 2022
- 3 min de leitura
Algumas impressões iniciais de pessoas que começam um atendimento psicológico pela primeira vez podem desmotivá-las a continuar o tratamento: chegar em um sessão de terapia, dar de cara com perguntas que parecem ser muito íntimas, e perceber que no processo de psicoterapia uma das atividades principais que você vai ter que fazer é conversar leva muitas pessoas a desistirem da psicoterapia. Isso não é raro mas também é muito fácil de ser compreendido, afinal, os resultados não são rápidos da mesma forma que um tratamento medicamentoso ou físico. Além disso, na terapia se faz necessário o engajamento do paciente, que se envolve no processo em busca de mudar o que não tem funcionado em sua vida.
Eis aqui a parte amarga da intervenção psicológica: ao perceber que para as intervenções começarem a surtir efeito elas dependem também do compromisso do paciente com sua própria mudança. Além disso, quando não há algo externo para responsabilizar pela existência e persistência da dor, do sofrimento é possível que a dor seja ainda maior, afinal além do peso da dor, a pessoa vai perceber sua parcela de responsabilidade naquilo que ela está vivendo. Mas fiquem tranquilos, esse caminho não é solitário, e é justamente onde uma nova interação entre paciente e profissional ocorre, ou seja, a responsabilidade pelo que é naturalmente interativo, é dividida entre ambos paciente e terapeuta.

A psicoterapia enquanto processo que leva ao autoconhecimento permite mudanças profundas de comportamento, mas... possibilitadas pelo que? Por novos entendimentos, compreensões mais abrangentes sobre o efeito dos outros e do mundo em nós, e o nosso efeito no mundo. E como se faz isso? Através de varias técnicas que no entanto são aplicadas em forma de troca de informações que comumente chamamos de -conversa-. Muitas pessoas podem considerar terapia bobagem justamente por ser baseada em uma conversa. “Pra que eu vou pagar pra conversar, não é mesmo? Se for pra conversar eu converso com meus amigos”. Esse entendimento é resultado do desentendimento de como se dá o processo psicoterapêutico e quais seus impactos no nosso bem estar. Imagine-se você através de uma “conversa” conseguir lidar com problemas que vinham sendo arrastados há tanto tempo, situações das quais se sentia culpado, responsável; situações traumáticas vividas que vinham ocupando boa parte de seus pensamentos, entre diversas outras experiências intimas que nos levam a ter a impressão que nossa mente é uma prisão ou de que algo está faltando e poderia ser melhor. A analogia que me pego fazendo agora sobre as pessoas que sofrem com incômodos e problemas psicológicos se refere à imagem daqueles prisioneiros que carregam uma bola de metal presa por uma corrente no tornozelo. No processo psicoterapêutico, MUITO diferentemente de uma conversa com amigos, é possível se libertar da pena à qual vínhamos sendo “condenados”, e aí podemos deixar de carregar aquela bola pesada de dor, inflexibilidade, pensamentos obsessivos, sentimentos ruins, etc. SIM, ISSO LEVA TEMPO. Mas, qual o efeito disso? A sensação de que a vida provavelmente vale a pena ser vivida, e de que ela não é só baseada na dor , em problemas, em injustiças..
Mesmo pessoas que não sofrem com transtornos psicológicos podem se beneficiar. O conhecimento da psicologia pode auxiliar o individuo a identificar comportamentos que o impedem de alcançar objetivos, concretizar seus planos, compreender melhor seus valores individuais. Resumir aqui o que a psicoterapia é capaz de fazer não é tarefa fácil pois os benefícios são extensos. De todo modo, reduzir a psicoterapia a uma simples conversa é também desconsiderar os impactos positivos que um profissional treinado teria para melhorar sua qualidade de vida e te auxiliar a lidar com o mau estar, em outras palavras o sofrimento.


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